Guia para montar sua gestora de fundo de investimento
Este guia propõe ajudar novos empreendedores que desejam iniciar suas gestoras de fundos e assim entrar em um segmento cada vez mais competitivo e...
Guia para montar sua gestora de fundo de investimento
Passo a passo e tudo que você precisa saber sobre regulamentações, processos e pessoas.
Introdução
Leia sobre o que uma gestora de fundos faz, o histórico dos fundos de investimentos no Brasil e o que é preciso para abrir uma gestora.
Este guia, feito em parceria com a ANBIMA, Cepeda Advogados, CVM e Options Group, propõe ajudar novos empreendedores que desejam iniciar suas gestoras de fundos e entrar em um segmento cada vez mais competitivo e regulado. Ao oferecer desde dicas operacionais básicas até credenciais e especializações exigidas pelos futuros operadores de recursos, este guia indica as boas práticas de mercado e os caminhos para operar de forma segura e sustentável.
Se você está lendo esse guia, muito provavelmente já ouviu falar em asset managements, também conhecidas no Brasil como gestoras de recursos ou gestoras de fundos de investimentos. Este segmento, que teve início no Brasil na década de 60, passou a ganhar espaço na última década graças à democratização do acesso a carteiras de investimento e a regras mais claras de criação, atuação e fiscalização das gestoras de recursos.
Tradicionalmente ocupado pelos grandes bancos comerciais, o setor se viu invadido por players pequenos e médios, liderados por profissionais do mercado financeiro que, em muitos casos, saíram dos próprios bancos, que antes dominavam a cena. Falou mais alto o desejo de empreender e fazer uma gestão personalizada de recursos de terceiros, em busca de oportunidades para conquistar grandes ganhos – e correr riscos. Aliás, correr riscos é um elemento constante neste segmento, prometendo como recompensa maior rentabilidade e possíveis lucros robustos.
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), atualmente existem 950 gestoras de recursos com registro ativo para exercer a atividade no Brasil. Mesmo frente a um mercado competitivo que é impactado diretamente por mudanças na estrutura política e econômica do país, este é um segmento que deve crescer exponencialmente nos próximos anos, acompanhando a estabilidade econômica e a manutenção dos juros básicos em patamares baixos, que tornam o mercado de fundos mais atrativo para quem deseja obter uma rentabilidade melhor do que as aplicações tradicionais.
Fonte: CVM
Este guia propõe ajudar novos empreendedores que desejam iniciar suas gestoras de recursos e assim entrar em um segmento cada vez mais competitivo e regulado. Ao oferecer desde dicas operacionais básicas até credenciais e especializações exigidas pelos futuros operadores de recursos, este guia indica as boas práticas de mercado e os melhores caminhos para operar de forma segura e sustentável.
Mas afinal, o que faz uma gestora
de fundos?
O termo asset management (gestora de ativos, no termo em português) define a gestão de recursos de terceiros, executada por bancos ou empresas criadas especificamente com essa finalidade, legalmente constituídas e supervisionadas pela CVM. Essas empresas, devido à sua especialização em gerir recursos de terceiros, têm sempre como objetivo maximizar a relação risco x retorno para seus clientes. Para atuar neste segmento, devem obedecer à diversas regras de atuação, sempre sob a supervisão da CVM e outras autoridades financeiras.
Histórico dos fundos de investimentos no Brasil
O mercado de capitais no Brasil passou a existir oficialmente com a lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que criou a CVM e determinou as primeiras regras de funcionamento deste setor. De lá para cá, muita coisa mudou e o mercado evoluiu de forma gradual, principalmente por meio das contínuas revisões e atualizações das normas da CVM.
Nos últimos 25 anos, a indústria de fundos no país alcançou um alto grau de maturidade, após enfrentar grandes desafios à medida que a economia brasileira passou por vários planos econômicos, alterações regulatórias, crises internas e externas. Durante este período, a indústria de fundos local aprimorou práticas, adaptou-se rapidamente às demandas de um Brasil que estava conquistando estabilidade econômica e que hoje oferece aos investidores padrões internacionais de excelência na gestão de investimentos.
Vale lembrar que, até a década de 1960, o perfil do investidor brasileiro era extremamente conservador, e atuava principalmente com investimentos imobiliários. Mas a evolução das novas legislações impulsionou o setor, com o fomento das Sociedades de Investimentos e o aumento do número de fundos de pensão.
A partir de 1990, o mercado brasileiro de fundos se tornou mais aberto, o que permitiu a entrada de investimento estrangeiro no país, situação que se mantém até hoje. Atualmente, há cerca de 600 gestores de recursos habilitados pela CVM e supervisionados pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capital), responsáveis pela administração de mais de 9 mil fundos.
Os investimentos financeiros brasileiros somaram R$ 2,9 trilhões em 2018. O volume representa uma alta de 9,3% em relação ao ano anterior, de acordo com relatório da ANBIMA, que consolida os investimentos das 77 milhões de contas dos segmentos de varejo e de private banking das instituições do país.
O que é preciso para abrir uma gestora de fundos de investimento?
Para abrir uma gestora de fundos, é necessário cumprir minimamente três etapas:
Para constituição de fundos de investimento será necessário apresentar um administrador fiduciário, que, na maioria das vezes, são instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central e pela CVM, observadas as regulamentações específicas.
A constituição da gestora será realizada mediante a formalização dos trâmites naturais de constituição de qualquer empresa: estatuto social (se for uma S.A.) ou contrato social (se for uma Ltda.), e registro da empresa nos órgãos governamentais, especialmente com o respectivo CNPJ e registro na Junta Comercial competente.
Após constituída a empresa, contratados os recursos humanos e computacionais adequados e necessários, deverá ser feito um pedido de credenciamento de Administrador Pessoa Jurídica para a Categoria Gestor de Recursos perante a CVM. Para tanto, a empresa deverá preencher adequadamente o Formulário de Referência (Anexo 15-II), previsto na instrução da CVM nº 558, de 2015 (“ICVM 558”), preencher declarações dos responsáveis pela gestão de recursos e pelo cumprimento de regras, políticas, procedimentos e controles internos, além de enviar um acervo documental para demonstrar sua adequada estrutura.
Após todas essas etapas, a CVM abrirá um processo administrativo para analisar o requerimento. Caso sejam registradas incompatibilidades, a CVM abrirá uma nova oportunidade para que as exigências sejam atendidas. Pode haver, em algumas situações, uma segunda rodada de questionamentos. Estando tudo adequado, a CVM irá conceder o registro e a autorização da gestora para iniciar as suas atividades.
De acordo com a ICVM 558, principal regra aplicável ao exercício profissional de administração e gestão de carteiras de valores mobiliários, a gestora deve:
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Atribuir a um diretor estatutário a responsabilidade pela gestão de carteiras de valores mobiliários;
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Atribuir a um diretor estatutário, em seu estatuto social ou contrato social, a responsabilidade pelo cumprimento de regras, políticas, procedimentos e controles internos e de compliance;
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Da mesma forma, atribuir a responsabilidade pela gestão de riscos do fundo a um diretor estatutário, que poderá ser o mesmo diretor encarregado de compliance;
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Possuir sócios controladores, diretos ou indiretos, que atendam a certos requisitos de idoneidade;
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Constituir e manter recursos humanos e computacionais adequados.
A gestora de recursos que optar por realizar, por si só, a distribuição de cotas de fundos de investimento dos quais faz a gestão, deverá possuir estrutura compatível para isso, o que exigirá da gestora maior investimento na contratação de recursos humanos e computacionais.
Business plan
Entenda melhor o que é um business plan, como incluir os custos do negócio e como abordar o controle de despesas.
Antes de qualquer coisa, um plano de negócios (ou “business plan”) deve apresentar todos os itens necessários para atingir os objetivos definidos para a plena operação da empresa, e oferecer uma avaliação realista do mercado, dos investimentos necessários ao longo do tempo e os prazos para que isso aconteça. Embora não seja necessariamente um roteiro para o sucesso, um plano de negócios pode reduzir o risco e o custo potencial de um fracasso.
O plano também é necessário para que os órgãos reguladores e os investidores compreendam melhor o objetivo da gestora e o que ela projeta para o futuro. Um bom plano de negócios, feito muitas vezes com a ajuda de especialistas neste tipo de documento, pode ser uma arma importante na obtenção das licenças necessárias para iniciar a operação do fundo.
O próximo passo é uma avaliação estratégica de como será a operação. Isso será determinante para o futuro do empreendimento. Qual é a natureza da gestora? É uma “spin-off” com uma equipe e um histórico já existentes? Existe um histórico dos sócios? Se não, como pode ser desenvolvido? Existe uma semente? Onde os potenciais investidores estão baseados (isto está relacionado com estrutura de fundos, documentação, custos e ambiente regulatório)? Qual será o custo para levantar esse investimento?
Muitas vezes, a não observância desta avaliação clara e honesta pode levar a equívocos que, em algum momento, cobrarão seu preço. Por isso, é aconselhável a ajuda de profissionais que já conhecem esta engrenagem, como consultores ou advogados especializados.
Há diversos custos envolvidos na atividade de gestão de recursos, como os custos legais associados à sua criação, gastos básicos para a abertura da empresa, que são normais em qualquer negócio (cartórios, taxas, etc.), além das taxas dos prestadores de serviços dos fundos de investimento, como do administrador fiduciário, por exemplo. Importante sinalizar que não há nenhum requisito de capital mínimo para investimento para a constituição e funcionamento de uma gestora.
Após estabelecidos os custos envolvidos, é preciso sinalizar qual o lucro estimado pretendido pela gestora. Também é indispensável definir o quanto desse valor será revertido para a própria gestora e o quanto será destinado aos sócios da empresa como ganhos operacionais.
Ao definir estes pontos, fica determinada a infraestrutura monetária da gestora, o que sinaliza ao mercado e aos órgãos reguladores a viabilidade do negócio e um bom grau de segurança para manter as operações de gestão de recursos.
Definida a infraestrutura monetária, o próximo passo é determinar a base de custos da gestora, o que inclui todos os gastos envolvidos na operação, o que vai impactar diretamente no resultado (lucro ou prejuízo).
Uma estratégia muito utilizada pelas gestoras de sucesso é a utilização de serviços terceirizados. Quanto mais pessoas empregadas diretamente, maior o custo direto e indireto (espaço de escritório, suprimentos, gerenciamento, custos trabalhistas, etc.). O uso de recursos externos reduz ou diminui gastos, como contratação de capital humano, necessidade de licenças de software, compra de equipamentos e outras despesas que são repassadas ao fornecedor. Serviços de contabilidade, RH, assessoria jurídica, TI e outros que dependam de insumos não ligados diretamente ao “core business” da gestora podem ser fornecidos por terceiros.
Contratar um COO (Chief Operating Officer) experiente também é muito útil para manter uma boa gestão e as contas sob controle. Além de garantir o equilíbrio entre faturamento e gastos, esse profissional poderá questionar ao longo do tempo suposições, estratégias e objetivos financeiros que a princípio faziam sentido, mas se mostraram equivocados em parte ou no todo, o que pode ser essencial para a sustentabilidade da empresa.
Um COO experiente economizará tempo e dinheiro, terá as conexões necessárias para o bom funcionamento da companhia e cuidará para que não haja deslizes na operação. Assim, os sócios poderão concentrar esforços nas atividades mais estratégicas da gestão de fundos.
Legislação
Saiba como uma gestora de recursos se mantém de acordo com a lei para permitir seu funcionamento e iniciar suas atividades.
Desde a etapa de planejamento, passando pelos processos de aprovação de atividades até a implantação e o desenvolvimento do negócio, uma gestora de recursos precisa seguir normas e estar de acordo com a legislação. Isso protege não apenas os possíveis investidores e seus recursos, mas também tem um papel fundamental para a sustentabilidade do negócio e do mercado de capitais como um todo.
Uma das exigências principais é contar com alguns profissionais-chave na equipe, sem os quais não é possível operar a gestora. Todos os fundos precisam ter um gestor responsável pelas decisões de investimentos, um administrador fiduciário, que processa e controla as aplicações e os resgates e faz o cálculo das cotas, além de monitorar os demais prestadores de serviço, e o custodiante que confere a custódia dos ativos e as contas da carteira, como o valor dos papéis. A partir da instrução 558, em vigor desde 2016, a CVM detalhou e especificou as atribuições dos gestores e administradores fiduciários, deixando mais claras as divisões entre as duas atividades. É importante salientar que, de acordo com cada tipo de fundo a ser gerido, podem haver exigências específicas em relação à prestadores de serviços ou colaboradores.
O administrador fiduciário, geralmente uma instituição financeira, supervisiona o trabalho do gestor, conferindo se o regulamento do fundo está sendo cumprido e se os ativos estão avaliados pelo valor correto de mercado.
"Atualmente, montar uma gestora exige um trabalho criterioso e detalhista. Em razão do desenvolvimento deste mercado na última década, as gestoras independentes estão num patamar de competitividade similar ao das instituições financeiras tradicionais, o que democratiza não apenas oportunidades nesse mercado, mas também oferece opções diversificadas aos interessados em investir."
André Wakimoto, sócio da Cepeda Advogados
A estrutura contratual de uma gestora é igual a qualquer outra empresa comum. Geralmente é uma empresa limitada (Ltda.). Para a constituição da empresa é necessária a celebração de um contrato social e seu registro na junta comercial na unidade da federação que vai atuar.
Em termos de impostos, as gestoras seguem as mesmas normas e obrigações fiscais que as demais sociedades limitadas. Porém, os custos de alíquota de ISS podem variar de acordo com o município.
Após a definição de todos os itens que permitem o funcionamento da gestora de recursos, é necessário passar pela fase de regulação e autorização da atividade. Essa etapa é realizada pela CVM em parceria com a ANBIMA, a partir de um convênio estabelecido entre as duas instituições em 2018.
Para seguir com a solicitação de autorização por parte da CVM, é preciso atender as exigências mínimas da ICVM 558, assim como do manual para habilitação de pessoas jurídicas e pessoas físicas disponível no site da ANBIMA, que contém informações adicionais que podem ser solicitadas, além dos prazos para conclusão do processo.
A análise destes documentos resulta em um relatório que é encaminhado à CVM, para que a autarquia decida pelo credenciamento ou não do solicitante.
Em paralelo ao pedido de autorização, é possível pedir a associação ou adesão aos Códigos ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas aproveitando os documentos enviados, conforme as regras de associação e adesão disponíveis no site da ANBIMA.
As análises seguem simultaneamente, no mesmo protocolo, e a efetiva associação ou adesão aos Códigos ANBIMA ocorre após o aval da CVM sobre a habilitação e após a aprovação nos organismos da ANBIMA (Conselho de Ética e Diretoria).
Órgãos regulatórios
Descubra quais são os agentes e órgãos regulatórios do setor, além das normas e regras estabelecidas.
O mercado de fundos de investimento é um mecanismo responsável pela movimentação de milhões de reais diariamente, e não poderia atuar sem normas e regras bem claras e definidas. Para regularizar todos os agentes envolvidos no setor, foram estabelecidas diretrizes voluntárias de atuação, elaboradas e fiscalizadas pela CVM, e regras voluntárias de autorregulação elaboradas e supervisionadas pela ANBIMA.
A atividade regulatória da CVM tem como objetivo assegurar que haja uma adequada proteção e harmonização dos interesses de todos os que atuam no mercado de fundos, condições consideradas fundamentais para promover a expansão e o desenvolvimento deste setor.
A CVM foi criada em 1976, com o objetivo de disciplinar o funcionamento do mercado de valores mobiliários no Brasil e dos agentes que nele atuam. É atribuição da Comissão normatizar as regras para o registro de companhias de capital aberto, para a emissão e distribuição dos mais diversos ativos negociados no mercado financeiro, além de fiscalizar e punir quem não cumpre as suas regras.
"Nossa missão é proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores, garantindo assim o bom funcionamento do mercado de capitais. Por isso, buscamos acompanhar a evolução e o desenvolvimento do mercado, atualizando a legislação e permitindo que pessoas qualificadas tenham a oportunidade de gerir recursos da maneira mais ética possível."
Daniel Walter Maeda Bernardo, Superintendente de Relações com Investidores Institucionais da CVM
A ANBIMA é uma entidade privada que representa as instituições dos mercados financeiros e de capitais brasileiros, como bancos, corretoras, gestoras de recursos, distribuidoras, entre outros agentes. Além de defender o interesse dos membros desse setor, a ANBIMA é uma entidade de autorregulação voluntária, que elabora regras e procedimentos por meio dos Códigos ANBIMA, a fim de estimular as melhores práticas nesses mercados. Além disso, ela certifica profissionais para atuar no mercado financeiro e de capitais e calcula índices de referência amplamente utilizados nestes mercados.
Em junho de 2018, a CVM firmou um convênio com a ANBIMA para a realização de atividades de supervisão junto à indústria de fundos de investimento. O convênio, que entrou em vigor a partir do início de 2019, prevê três linhas de ação complementares:
- Habilitação: fornecimento de subsídios à análise da CVM em pedidos de credenciamento para a atividade de administração de carteiras de valores mobiliários para pessoas físicas e jurídicas;
- Marcação a Mercado: supervisão da precificação de ativos financeiros pelos administradores de fundos de investimento regulados pela Instrução CVM 555;
- Distribuição: supervisão da atividade de distribuição de cotas de fundos de investimento pelos intermediários de valores mobiliários.
Desta maneira, a CVM e a ANBIMA atuam de forma coordenada e mantêm permanente intercâmbio de informações de interesse comum.
Como solicitar pedido de autorização de funcionamento da gestora de fundos
O pedido de registro é feito pelo Sistema de Supervisão de Mercado (SSM), operado pela ANBIMA e utilizado na troca de informações entre a entidade, a CVM, os administradores fiduciários e os gestores de recursos de pessoas jurídicas e pessoas físicas. Em seguida, é preciso enviar uma série de documentos que serão avaliados pela área de supervisão. Durante o processo, podem ser pedidas mais informações ou esclarecimentos, observado o manual para habilitação de pessoas jurídicas e pessoas físicas disponível no site da ANBIMA.
Transparência das informações agiliza o processo
Durante o processo de credenciamento na CVM e associação ou adesão à autorregulação da ANBIMA, quando houver, quando falta algum documento ou uma informação está incompleta, há a necessidade de realizar um ofício de reparação ou complemento. Nessa etapa, a gestora de recursos pode enviar mais dados e esclarecer pontos relevantes levantados pela associação, que podem impactar no pedido de autorização na CVM.
Por isso, é importante disponibilizar as informações relevantes que sejam de seu interesse, e não apenas aquelas impostas por leis e regulamentos. Demonstrar transparência neste momento cria um ambiente de confiança, tanto internamente quanto nas relações da gestora com o mercado. Além do desempenho econômico-financeiro da gestora, deve-se valorizar os fatores intangíveis que norteiam a ação gerencial e criam valor em suas relações, como boas práticas de governança.
"Mais do que apresentar uma estratégia de negócios consistente e um planejamento robusto, o cerne da avaliação das gestoras que buscam por autorização de funcionamento é a transparência. Quanto mais clara a gestora for desde o início do processo, mais eficiente e confiável ela se torna."
Alessandro Rigon, Gerente de Operações na ANBIMA e responsável pela estruturação da área na Supervisão de Mercados
A autorregulação realizada pela ANBIMA é baseada em códigos de regulação e melhores práticas, criados a partir de propostas que surgiram nos comitês e subcomitês da entidade. As atividades de autorregulação são apoiadas por dois organismos internos: um que orienta a atuação da área de Supervisão e analisa os relatórios elaborados pelas equipes técnicas da associação (as comissões), e outro que instaura e julga processos, além de emitir deliberações e orientações sobre as normas (os conselhos).
Para fazer o trabalho de supervisão do cumprimento dos códigos de autorregulação e melhores práticas, a ANBIMA utiliza estes procedimentos:
- Cartas de orientação: de caráter educativo, a comunicação orienta as instituições quanto a eventuais desvios. Cada carta de orientação pode conter mais de um apontamento.
- Relatórios de supervisão periódica: utilizados na supervisão periódica “in loco”, estes documentos agrupam os problemas identificados durante a visita e as recomendações de aprimoramento dos processos. A gestora de recursos deve apresentar um plano de ação para adequar-se aos itens obrigatórios dos códigos.
- Multas: penalidade financeira aplicada quando há descumprimentos objetivos dos códigos. Após o pagamento, as multas são divulgadas ao mercado. Os recursos obtidos são investidos em iniciativas de educação do investidor.
- Termos de compromisso: documento que tem como objetivo interromper e corrigir descumprimentos das regras. O termo de compromisso não representa uma confissão de erro, mas suspende os processos que estejam em andamento até que as ações prometidas sejam cumpridas. Os termos de compromisso são divulgados ao mercado. Os recursos obtidos são investidos em iniciativas de educação do investidor.
- Procedimento para Apuração de Irregularidades (PAI): investigação instaurada para apurar indícios de descumprimento às regras dos códigos.
- Cartas de recomendação: documento proposto durante um PAI, quando a infração tiver pequeno potencial de dano e for de fácil reparação. Nessa comunicação, a gestora investigada recebe instruções sobre formas de corrigir sua conduta, conforme as regras do código. Ao adotar as medidas propostas, ela não fica mais sujeita à punição. As cartas de recomendação são divulgadas ao mercado.
- Processos: são instaurados pelos conselhos de regulação e melhores práticas quando for constatado algum descumprimento às regras do código. Podem resultar em julgamentos e gerar pagamento de multas.
Código de Administração de Recursos de Terceiros
O Código de Administração de Recursos de Terceiros da ANBIMA orienta as atividades das instituições no que se refere à atividade de administração fiduciária, gestão de recursos de terceiros e gestão de patrimônio financeiro. Ele
visa estabelecer concorrência leal, padronização de procedimentos, mais qualidade e disponibilidade de informações sobre os fundos de investimento, elevação dos padrões fiduciários e promoção das melhores práticas do mercado.
A associação à ANBIMA ou adesão aos Códigos ANBIMA é voluntária. As informações, assim como os documentos necessários para se associar à ANBIMA ou aderir aos Códigos ANBIMA estão disponíveis no site da Associação no documento “Regras e Procedimentos para Associação à ANBIMA ou Adesão aos Códigos ANBIMA”.
A ANBIMA possui selos para algumas das atividades que autorregula, como gestão de recursos de terceiros e administração fiduciária. A veiculação dos Selos ANBIMA tem por finalidade exclusiva demonstrar o compromisso das instituições com o cumprimento e observância das regras e procedimentos previstos nos Códigos ANBIMA.
As regras aplicáveis aos Selos ANBIMA estão disponíveis no site da Associação no documento “Regras e Procedimentos para uso dos Selos ANBIMA”.
Certificações
Aprenda como obter o credenciamento para atuação com gestão de fundos de investimento.
Qualquer pessoa pode se tornar um investidor. Porém, para se tornar um profissional do mercado financeiro e realizar a gestão de investimentos, são necessárias algumas certificações obrigatórias.
A CVM determina que existem três formas
de conseguir o credenciamento necessário
para atuação com gestão de recursos de terceiros:
Confira abaixo quais são as principais certificações relacionadas aos profissionais que atuam nos mercados financeiro e de capitais:
Certificação de Gestores ANBIMA (CGA)
A CGA certifica os profissionais que atuam na gestão de recursos de terceiros, com poder para tomar decisões de investimento. Logo, é obrigatória para quem quer abrir uma asset, ter uma gestora que seguirá a autorregulação da ANBIMA e desempenhar essa atividade.
Existem no Brasil cerca de 3.448 profissionais que concluíram o processo de certificação CGA, de acordo com dados da ANBIMA de maio de 2019. O exame é realizado em dois módulos, cada um com 60 questões e três horas de duração.
O primeiro módulo abrange métodos quantitativos, economia, análise de balanços e teoria sobre os mercados de renda fixa, renda variável e derivativos. Também são abordadas questões de ética e legislação dos fundos brasileiros.
O segundo módulo aborda temas ligados ao dia-a-dia do gestor de recursos, como por exemplo, gestão de carteiras de renda fixa, renda variável, teoria de carteiras, modelos de precificação e gestão de risco e desempenho.
Certificações Profissionais ANBIMA – Série 20
A CPA-20 é indicada aos profissionais que oferecem produtos no segmento varejo alta renda, private, corporate e investidores institucionais, não sendo condicional para a habilitação, mas apenas quando o gestor opta pela distribuição de seus fundos. Ela é necessária quando o gestor optar pela distribuição de seus fundos. Já foram emitidas 136.859 destas certificações até abril de 2019.
Há outras certificações que se sobrepõem à CPA-20 para quem distribui fundos, como a CEA (Certificação de Especialista de Investimentos ANBIMA) e a CFP (Certified Financial Planner, da Planejar), além de outras que podem interessar ao profissional, como a CFA (Certified Financial Analyst, do CFA Institute).
Características comuns entre as certificações ANBIMA
Todas estas quatro certificações da ANBIMA exigem um acerto mínimo de 70% das questões do exame para aprovação.
Profissionais certificados com a CPA-20 podem realizar todas as atividades atribuídas àqueles com a CPA-10. E profissionais certificados com a CEA podem todas as atividades atribuídas àqueles com a CPA-10 e CPA-20.
As certificações são válidas por um prazo máximo de cinco anos para profissionais que trabalharam em instituições que seguem as regras do Código de Certificação da ANBIMA durante este período, e por três anos para os que trabalham em instituições financeiras que não aderiram ao código. Caso estes se transfiram para gestoras do primeiro caso, o prazo é automaticamente reajustado para cinco anos a partir da data da certificação.
Caso contrário, ou seja, se o profissional deixar de trabalhar em uma empresa que segue a autorregulação, são concedidos três anos de vigência a partir desse dia – desde que não ultrapassem os cinco anos da data da certificação.
Capital humano
Leia sobre as diferentes áreas de uma gestora de recursos tradicional, além da remuneração e integração entre as equipes.
Um ponto de grande importância para determinar o sucesso ou fracasso de uma gestora de recursos é o capital humano que ela consegue captar e a qualidade da equipe operacional montada para atuar em uma atividade tão estratégica. É fundamental saber quais são as formações ideais, experiências fundamentais e o perfil dessas pessoas.
As gestoras de recursos, geralmente, são divididas essencialmente em duas áreas principais: uma com os elementos que fazem a escolha, gestão e comercialização dos ativos, comumente chamada de front office; e uma que concentra os profissionais que oferecem supervisão, análise e controle da operação, e que acolhe o middle e o back office.
"Essa é uma carreira ideal para os amantes de números. Como é uma atividade relativamente nova no Brasil, mas também muito promissora, a falta de profissionais qualificados e as perspectivas do setor podem significar salários atrativos para quem colhe bons resultados."
Vinicius Bolotnicki, sócio do Options Group
Abaixo, descrevemos um exemplo de modelo e organograma organizacional de uma gestora de recursos para fins ilustrativos e de entendimento, permitindo que os leitores deste guia possam obter uma base para o desenvolvimento de seus negócios. É importante ressaltar que as informações descritas nesse parágrafo não têm como objetivo definir a estrutura de todas as gestoras, pois cada empresa e sua gestão contam com especificidades e particularidades, observado a natureza da atividade, o porte, a complexidade das operações realizadas, a estrutura e o perfil de risco da instituição.
O front office, geralmente, reúne as atividades de gestão de portfólio, análise de cenários e investimentos e a gestão comercial da asset. Os principais atores deste setor são o portfólio manager, o trader e o analista.
O gestor da carteira, ou portfólio manager, é o profissional responsável pelos investimentos realizados pelos fundos de investimento e carteiras administradas. É quem decide quais ativos financeiros irão compor a sua carteira, quando e quanto comprar ou vender de cada ativo, sempre observando as perspectivas de retorno, risco e liquidez, tendo em vista a política de investimento e os objetivos definidos no regulamento.
A ele cabe tomar decisões de investimentos de acordo com o que está definido no regulamento do fundo ou da carteira e gerir o risco dessas aplicações, dentro do que foi oferecido ao investidor.
O trader é o profissional que realiza a compra e a venda de ações ou outros ativos, de acordo com as orientações recebidas pelo portfólio manager.
O analista fornece suporte ao gestor de investimentos, auxilia na tomada de decisão e depois sugere mudanças de rota, de papel e produtos, quando julgar necessário. A partir da análise das condições da economia, do horizonte para o setor e dos números divulgados nos balanços das empresas, o analista faz as projeções do preço-justo de um papel ou ativo e elabora as recomendações de compra, venda ou manutenção. Ele é uma fonte permanente de informações e suporte para quem está na atividade de negociação, compra e venda, por isso sua presença é fundamental para o andamento das operações do fundo.
A área de back office é responsável pelo processamento das transações, liquidações e afins, fundamentais para as operações e para o trabalho da equipe de front office. O back office costuma ser a porta de entrada no mercado financeiro. É onde o profissional terá uma visão geral e prática do funcionamento do negócio e de todas as operações realizadas no mercado de renda variável, renda fixa e fundos de investimento.
Dependendo do tamanho do patrimônio ou da gestora de recursos, o setor de back office pode incluir uma área jurídica interna, recursos humanos, marketing, tecnologia e outras. Como servem para apoiar a operação principal da instituição – a gestão de recursos – muitas vezes a área de back office recebe menos atenção do que deveria. Isso é um erro, pois ela serve justamente para garantir que todas as condições operacionais estejam a contento, gerando tranquilidade e segurança para que a equipe de front office possa atuar com desenvoltura.
Assim como o back office, a área de middle office está envolvida nas operações de uma gestora de recursos e garante a execução adequada das transações. É papel desses profissionais assegurar que os recursos negociados durante as transações sejam processados, registrados e atendidos. São suas responsabilidades também o gerenciamento de contratos relativos a transações comerciais, gerenciamento de risco, lucro e perdas.
Aqui também está presente a figura do diretor de riscos e compliance, que é responsável pelo cumprimento de regras, políticas, procedimentos e controles internos da gestora, monitorando os perfis e exposição de riscos das carteiras. Ele deve exercer suas funções com independência e de forma totalmente desvinculada da área de investimentos e gestão de recursos.
Além disso, o middle office normalmente conta com profissionais de tecnologia da informação para dar suporte às estratégias comerciais. São eles também que gerem softwares de negociação e terminais de informação, o que ajuda na captação e manutenção dos fundos de clientes por trabalhar com inputs do mercado.
De uma maneira geral, a formação dos profissionais que fazem parte do time operacional de uma gestora de recursos provém dos cursos de economia e administração, embora tenha aumentado a participação de egressos do curso de engenharia, pela habilidade de planejar, projetar e trabalhar com números.
Para se iniciar na carreira, é recomendável que os jovens que estão no último ano da universidade procurem estágios ou participem de programas de trainees em bancos ou corretoras de valores para adquirir mais conhecimento sobre o mercado e a experiência de atuar no setor. Eles terão vantagem frente aos que irão tentar uma posição só depois de formados.
Atualmente, o maior desafio das instituições que operam no mercado de investimentos é encontrar bons profissionais, que já tenham as certificações mínimas necessárias para atuar no setor e estejam dispostos a trabalhar com remunerações subjetivas, ou seja, com salários fixos menores e possibilidades de boa remuneração atrelada a performance e resultados.
Não há uma base bem definida de remuneração no mercado financeiro e de capitais. Vale lembrar que cada mercado opera com suas especificidades, e o segmento de gestão de recursos não é diferente. Muitas gestoras, principalmente as menores, optam por remunerar seus profissionais de acordo com a performance, oferecendo, por exemplo, um percentual da receita gerada por ele no mês. Quando o porte da instituição é maior, geralmente, há espaço para negociar um recebimento fixo e outro com caráter variável, ou mesmo ganhar pela performance da gestão de uma carteira particular e receber também pelo resultado da empresa como um todo.
Um analista de investimento pode receber um valor fixo mensal, que é variável dependendo de sua senioridade, tempo de profissão ou acordo pré-estabelecido. O gestor experiente de recursos tem seu acordo de remuneração funcionando da mesma forma, no entanto, cabe maior negociação, dependendo do volume de recursos de sua carteira e a performance de sua área. Este é um segmento de limites de ganho bastante elásticos.
Integração entre as áreas
Nessa seção, apresentamos um exemplo de como as áreas de negócio de uma gestora podem compartilhar informações e implementar processos amplos para impulsionar sua atuação no mercado. Observada as regras de segregação de atividades previstas na regulação, não há nenhuma exigência imposta por parte de órgãos de regulação e autorregulação referente ao tema, mas descrevemos como boas práticas de integração podem ajudar na sustentabilidade de uma gestora de recursos.
Apesar de terem funções distintas, é muito importante que todas as áreas da gestora trabalhem de maneira integrada para gerar os melhores resultados possíveis. Essa integração costuma se dar na forma de comitês e reuniões com os profissionais das diferentes áreas. Vamos utilizar como exemplo o Comitê de Investimentos para explicar melhor como funciona essa integração.
Em sua estrutura, o Comitê de Investimentos costuma ter os responsáveis por cada uma das áreas da gestora, assim como os analistas estratégicos. O economista-chefe e sua equipe de análise econômica trazem a sua visão do cenário global e local e o potencial impacto desses cenários sobre as principais classes de ativos. Isso, por sua vez, leva a uma discussão dos cenários pelas diferentes áreas.
Em seguida, as equipes de gestão de recursos traduzem os cenários e a análise na escolha dos ativos que irão compor os fundos sob gestão. A área de gestão de risco analisa os riscos envolvidos e é responsável por dar o aval para a execução das estratégias. A área comercial dá o feedback relacionado às necessidades dos clientes da gestora e se é possível captar recursos para a execução de novas estratégias.
A integração entre as áreas, além de ser considerada uma boa prática do setor, minimiza o risco de erros operacionais e problemas de coordenação que sempre trazem prejuízo para gestores e clientes.
Essa imagem é apenas para fins ilustrativos, e é um exemplo de como o organograma de uma gestora de recursos pode ser estruturado.
Infraestrutura
Compreenda os requisitos de infraestrutura que garantem o bom desempenho das atividades da gestora de recursos.
A infraestrutura é a base do funcionamento de uma organização, pois garante o desempenho adequado de suas atividades. Há infinitas possibilidades para se montar uma boa infraestrutura, considerando cada tipo de empreendimento, mas a base é comum, envolvendo estrutura física, softwares, sistemas e outros recursos para o bom desenvolvimento das operações.
Ter instrumentos e equipamentos de ponta, adquirir tecnologias que otimizem as operações internas e criar ambientes de trabalho para que proporcionem bem-estar, confiabilidade e segurança para os colaboradores e clientes são essenciais para o sucesso de qualquer empresa, principalmente de uma gestora de fundos.
Não há nenhuma exigência ou restrição da CVM quanto à estrutura física de uma gestora, que pode estar alocada em um escritório com a metragem desejada, desde que essas instalações sejam compatíveis com a atividade e porte da gestora e sigam uma política que evite conflitos de interesse.
Quando uma gestora é criada para cuidar dos fundos de uma outra empresa do mesmo controlador, por exemplo, existe a preocupação que os profissionais que atuem na gestora não tenham acesso a informações privilegiadas e estejam isentos de quaisquer estratégias de atuação de outras empresas da mesma holding. Por isso é recomendado que fiquem em espaços físicos diferentes.
Outro exemplo: a mesa de um gestor de recursos não pode estar ao lado da mesa do captador de clientes, o que constituiria uma infração à ICVM 558.
Tecnologia
Entenda por que a tecnologia é um elemento fundamental no funcionamento das gestoras de recursos.
Para transacionar terabytes de dados diariamente com eficiência e segurança é preciso um bom investimento em tecnologia. Além de computadores e servidores potentes, as gestoras de recursos precisam de soluções tecnológicas adequadas e dados de mercado confiáveis, que fazem a diferença no que se refere a rapidez e transparência da operação.
Para que a tecnologia seja uma ferramenta aliada aos processos e à estratégia de operação de uma gestora de recursos, o mercado oferece diversas soluções, que incluem quatro pilares principais: Transações Eletrônicas, Gerenciamento de Ordens, Compliance e Dados.
Atualmente, a tecnologia é um elemento fundamental no funcionamento do mercado financeiro. Por isso, a execução de negociações de forma eletrônica se tornou parte vital no fluxo de trabalho das gestoras de recursos, apesar de algumas delas seguirem utilizando métodos analógicos ou manuais.
Após a adoção de um sistema eletrônico, a negociação gera mais transparência, evita erros operacionais, garante melhor execução, permite um fácil enquadramento nas regras de compliance e colabora para a execução otimizada de diversas classes de ativos.
O trader e, consequentemente, a gestora como um todo, são os maiores beneficiados pelas ferramentas de transações eletrônicas, pois elas lhe permitem utilizar análises pré-negociação para tomar decisões mais rápidas e inteligentes a partir de qualquer sistema de gestão de ordens, e analisar a performance da execução em tempo real. Com elas, o profissional pode preparar, monitorar, negociar e alocar transações nos terminais de negociação.
Os sistemas de gestão de ordem e execução, também conhecidos como OMS (Order Management System), possibilitam criar fluxos de trabalho mais eficientes, diminuir o custo total de operação e cumprir obrigações de compliance regulatórias cada vez mais rigorosas. Eles também permitem a movimentação entre ferramentas de gestão de carteiras, negociação de ativos dentro e fora do Brasil e o acompanhamento do desempenho dessas negociações em tempo real.
Além disso, a integração de OMS com sistemas de gestão de risco para criar uma única plataforma de processamento pode simplificar a comunicação e o fluxo de trabalho, colocando no mesmo sistema de negociação integrado traders, gestores de risco e compliance, além do portfólio manager e de todos os tomadores de decisão.
Esses sistemas incluem análises do ciclo de investimento, incluindo renda variável, renda fixa, câmbio, operações de ações listadas em bolsa, contratos futuros e derivativos de balcão.
As gestoras de recursos estão inseridas em um ambiente regulatório complexo e dinâmico, que exige transparência e gestão estratégica de recursos de investidores, por isso precisam de ferramentas que promovam integração e atualização constante de regras de compliance.
Elas são um diferencial competitivo para as assets, se não uma exigência para sua sobrevivência no mercado. Elas também garantem que toda a operação está dentro dos padrões e da legislação, além de oferecer vantagem competitiva às gestoras, pois a integração dos sistemas de compliance a fluxos de trabalho demonstra solidez nas operações, tornando-as mais atrativas para investidores internacionais, por exemplo.
Há diversas soluções oferecidas no mercado com esse objetivo. São preferíveis aquelas que abordam o onboarding de clientes, diligência, compliance de pré e pós-negociação e execução eletrônica, tudo integrado no mesmo fluxo, para que o controle das operações siga o compliance regulatório em todas as áreas dos negócios.
Um dos elementos importantes na operação de uma gestora é a informação, por meio de notícias em primeira mão e a qualidade dos dados financeiros do mercado e sua consistência. Em mercados voláteis, o acesso a notícias de forma mais rápida e aprofundada é essencial para obter vantagem competitiva no segmento de fundos de investimento. Por isso, gestoras de todos os portes contam com terminais de informação capazes de coletar, validar e normalizar informações de várias fontes.
Ferramentas inteligentes de feed de dados conseguem identificar as informações relevantes para uma determinada operação de uma gestora, organizando e ranqueando para os usuários notícias, análises de mercado, indicadores macroeconômicos, além de conjuntos de dados consistentes.
Além disso, é preciso ter os dados certos de maneira rápida, confiável e consistente para coordenar e executar suas estratégias de negócios com eficácia. Isso garante que todos os sistemas e todas as funções da gestora estejam utilizando os mesmos dados, provenientes da mesma fonte, o que permite um melhor suporte às ações do front, middle e back office, alimentando também sistemas de contabilidade, gestão de carteiras, gerenciamento de ordens e compliance.
O uso de dados financeiros e informações de ativos fornecem à gestora um conhecimento completo do mercado, permitindo que as operações sejam seguras e a busca por atingir as metas, facilitada. A utilização de uma plataforma que forneça estes dados e informações em todas as etapas do processo em tempo real e com as fontes mais confiáveis em todo o mundo é um grande diferencial competitivo para gestoras de fundos de qualquer porte.
"O cerne de negociações financeiras é o conhecimento do mercado de capitais. Por isso, dados e informações em primeira mão garantem agilidade e assertividade nos negócios, além de proporcionar mais segurança para o compliance. Esse diferencial competitivo pode ser essencial para a sobrevivência de uma gestora no mercado."
Felipe Nogueira, Gerente Comercial para o Buy Side da Bloomberg Brasil
Fluxo de trabalho integrado
Para estar à frente de um mercado tão competitivo quanto o de capitais, as gestoras precisam estabelecer padrões operacionais eficientes e inovadores não só na tomada de decisão, mas também nos comitês de investimentos citados anteriormente, assim como na sua execução em um fluxo de trabalho integrado. Esse modelo garante que toda a operação seja executada de forma ordenada, segura e rápida, seja para atingir suas metas, reduzir custos de carteira, administrar riscos, estar dentro das regras de compliance ou otimizar execuções. Há no mercado plataformas que fornecem soluções e serviços de tecnologia e informação que impulsionam as operações em todo o fluxo de trabalho de negociação de instrumentos financeiros.
Em um caso prático, o analista utiliza todos os dados e informações de mercado disponíveis para fazer recomendações ao portfólio manager e tomadores de decisão. O portfólio manager, por sua vez, direciona a decisão ao trader, que realiza a execução da ordem, preferencialmente de maneira eletrônica. Por fim, a área de Risco e Compliance fica responsável pela execução das regras definidas e pelo controle correto dos recursos geridos pela asset, e tudo é organizado dentro de um sistema OMS e alimentado por um feed de dados em tempo real.
Esse é o modelo de negócios ideal para uma gestora tornar seus processos mais eficientes. Contudo, é possível encontrar no mercado players que realizam partes dos processos descritos acima de maneira analógica, adicionando-as posteriormente no fluxo de trabalho. Mesmo que essas atividades sejam realizadas de forma não eletrônica (até em softwares como o Excel) e incluídas no sistema após sua finalização, essa ação coloca em risco as operações da gestora, uma vez que ficam sujeitas a erros operacionais e um sistema de compliance mais difícil de ser gerenciado em tempo real.
Conclusão
Relembre quais eram os requisitos fundamentais para dar início a uma gestora de fundos.
Agora que chegou ao final deste guia, você já possui todas as informações importantes para dar início a uma gestora de recursos. É uma atividade promissora, embora repleta de regulações e desafios.
Requisitos fundamentais
- Constituir uma empresa com o objeto social específico para tal atividade; possuir um gestor, profissional responsável pela gestão dos ativos da empresa, além de um profissional com experiência para ser responsável por compliance e risco; e requerer o credenciamento para funcionamento da empresa perante a CVM. Depois será necessário apresentar um administrador fiduciário para o fundo que, em geral, são instituições financeiras, que devem ser autorizadas para esta atividade pela CVM.
- Ter um business plan bem robusto e abrangente – e ao mesmo tempo realista – para que os órgãos reguladores e o mercado entendam os objetivos e ambições da gestora. Neste passo, a ajuda de um especialista pode ser importante.
- Dimensionar com a maior precisão possível as estimativas do custo do negócio e os gastos envolvidos na operação. O aporte de um capital mínimo inicial e a projeção de em quanto tempo haverá retorno são etapas fundamentais. Para ter uma gestão eficiente das contas, pode ser um ponto importante de atenção de um Chief Operating Officer (COO).
- Conhecer a fundo a legislação do setor, as normas a serem seguidas em termos de sustentabilidade do negócio, equipe envolvida e autorizações para operar. Neste quesito, há diversas exigências legais, regulatórias da CVM e da autorregulação da ANBIMA, que podem ser acessadas aqui.
- Obter as certificações necessárias para seus profissionais junto à CVM para operar a gestora. Elas variam de acordo com o tipo de produto a ser gerido e comercializado, possuem diversos graus de exigência e possuem validade média de até cinco anos, excluindo o CFA.
- Investir no capital humano da gestora, obedecendo as exigências mínimas de composição da equipe. É primordial escolher profissionais preparados e experientes nas diversas frentes do negócio, divididas em front office, middle office e back office, no jargão do mercado.
- Ter uma infraestrutura bem dimensionada para as atividades do negócio. Ela é a base para que todas as atividades possam ser desenvolvidas com segurança e tranquilidade. Neste quesito entram o espaço físico adequado, os investimentos em tecnologia, softwares e sistemas de informação.
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Contar com fontes de dados financeiros confiáveis, bem como plataformas de execuções eletrônicas integradas por todo o fluxo de trabalho, permitem uma melhor gestão dos negócios e o desenvolvimento de processos mais eficientes.
Alessandro Rigon, Gerente de Operações de Supervisão de Mercados da ANBIMA
André Wakimoto, sócio do Cepeda Advogados
Daniel Walter Maeda Bernardo, Superintendente de Relações com Investidores Institucionais da CVM
Felipe Nogueira, Gerente Comercial Buy Side da Bloomberg
Soraya Alves, Gerente de Assessoria Jurídica da ANBIMA
Tatiana Itikawa, Gerente de Representação de Fundos de Investimento e Serviços Qualificados da ANBIMA
Vinicius Bolotnicki, sócio do Options Group
As informações contidas neste material (“Informações”) são de caráter exclusivamente informativas e educacionais, bem como não constituem qualquer tipo de recomendação por parte dos seus autores. As Informações possuem caráter genérico e podem estar incompletas para eventual finalidade desejada, uma vez que não são endereçadas a situações específicas. As Informações devem ser lidas e interpretadas em conjunto com a íntegra da legislação vigente, conforme regulamentação e interpretação emitida pelos órgãos competentes, incluindo mas não se limitando à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Os autores não estão vinculados a qualquer obrigação, resultado ou êxito decorrente do uso das informações. Os autores não se responsabilizam por quaisquer danos decorrentes da utilização das informações. Fica proibida a utilização das informações para os fins que não sejam de informação e educação. Fica proibida a cópia ou divulgação não autorizada das Informações, especialmente se efetuada com intuito de levar vantagem econômica ou para fins diversos do caráter meramente informativo e/ou educacional.