Para criar um ambiente no qual o mercado possa avançar o mais rápido possível em direção a investimentos de baixo carbono, o TEG (European Commission Technical Expert Group) de finanças sustentáveis elaborou um sistema de classificação da UE para atividades sustentáveis - o regulamento da UE para mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
O que essa classificação significa para o mercado e como as empresas podem tirar proveito disso? Onde estão as oportunidades e os desafios? Qual o futuro das finanças sustentáveis?
Olivier Guersent, diretor geral de Estabilidade Financeira, Serviços Financeiros e União dos Mercados de Capitais (FISMA) da Comissão Europeia falou sobre a nova classificação no The Future of Sustainable Finance, um evento organizado pela Bloomberg Frankfurt em junho de 2019.
Uma classificação mundialmente relevante
Esta classificação, mundialmente relevante, busca fornecer orientações a legisladores, setores e investidores sobre a melhor forma de apoiar e investir em atividades econômicas que contribuam para alcançar uma economia neutra em termos climáticos.
O relatório do TEG sobre a classificação da UE contém critérios técnicos de triagem para 67 atividades ao longo de oito setores, podendo contribuir significativamente para a mitigação de mudanças climáticas, juntamente com uma metodologia e exemplos elaborados para avaliar uma contribuição substancial à adaptação e orientação às mudanças climáticas, e estudos de caso para investidores preparando-se para usar essa classificação.
Ele também explicou que o objetivo da Comissão é que essa classificação forneça informações ao mercado internacional, para ajudá-lo a se autodirecionar à investimentos sustentáveis.
Na UE, a classificação será aplicada apenas a estados membros e instituições públicas [da UE] e aos participantes do mercado autodenominados sustentáveis ou ecológicos. Para outros países na UE e ao redor do mundo, estará disponível como uma ferramenta de informação para auxiliar investidores na tomada decisões sobre como e onde investir.
Além de seu relatório técnico, o TEG também publicou um relatório suplementar sobre o seu uso. Isso fornece uma explicação concisa e clara aos investidores e empresas sobre o valor da classificação, seu funcionamento e facilidade de uso.
Os desafios da implementação
Guersent identificou a necessidade de maior confiança entre diferentes players em um mercado internacional fragmentado e um entendimento comum sobre o que constitui um investimento sustentável.
Também sugeriu que mudar o pensamento do curto para o longo prazo e alinhar-se ao objetivo de redução de emissões da Estrutura de Clima e Energia de 2030 com a estratégia de longo prazo para alcançar a neutralidade do carbono até 2050 será um desafio para muitas empresas.
“As emissões Europeias representam 11% do total de gases de efeito estufa. Isso significa que quase 90% do problema está em outras partes do planeta, particularmente em países em desenvolvimento/emergentes”, disse Guersent.
Para impulsionar o desenvolvimento sustentável de todas as nações, a Comissão está ampliando seu programa de finanças verdes. O objetivo é que um quarto do orçamento da UE contribua em ações climáticas a partir de 2021. No entanto, [a Comissão] diz que o dinheiro público não será suficiente e que deseja incentivar e canalizar o investimento do setor privado para desenvolvimento verde e sustentável. Nos próximos sete anos, disponibilizará aproximadamente 450 bilhões de euros para incentivar e canalizar o investimento do setor privado para desenvolvimento verde e sustentável.
Oportunidades para empresas e investidores
A nova classificação e o mercado global, cada vez mais voltado à sustentabilidade, visa informar e envolver, apresentando diversas oportunidades para empresas e investidores.
Os benefícios para investidores incluem uma maior variedade de projetos e produtos financeiros verdes para satisfazer a demanda em rápido crescimento. Benefícios para empresas incluem novas fontes de financiamento nos mercados globais de capitais e no setor financeiro em todo o mundo.
Guersent vinculou a necessidade de rendimentos estáveis ao longo do tempo entre a população mais velha à necessidade da estabilidade ambiental. Sugeriu que ambos eram fundamentalmente compatíveis e disse que, claramente, qualquer investimento com perfil de emissão de carbono baixa ou nula pode ser considerado.
“Por enquanto, nosso foco é evitar emissões de carbono. Este é o primeiro dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU - queremos um projeto que alcance um impacto significativo nesta área, sem prejudicar os outros cinco objetivos ”, afirmou Guersent.
“Uma empresa não precisa ser 'super verde' para atender à classificação; basta evitar emissões excessivas.”
Acordo e consultoria de outras partes
Durante a conversa, Christian Thimann, presidente do conselho de administração da Athora Insurance Holding Germany e Thomas Kusterer, diretor financeiro da EnBW Energie Baden-Württemberg AG, falaram positivamente sobre a classificação. Ambos o consideram um passo importante para auxiliar o mercado a identificar e concordar com o que constitui um produto financeiro ou investimento verdadeiramente sustentável.
“Precisamos garantir que possamos atender às tecnologias de transição e tecnologias facilitadoras", disse Thimann, ressaltando que a nova classificação ofereceu a analistas de negócios a oportunidade de desenvolver expertise e tornarem-se líderes na área.
Também lembrou que as empresas devem usar a metodologia da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TFCD, na sigla em inglês) para rastrear e relatar emissões que, como a classificação, são voluntárias e impulsionadas por negócios.
A Dra. Sabine Mauderer, membro do conselho executivo do Deutsche Bundesbank, destacou que na Alemanha, alguns bancos oferecem condições favoráveis para empréstimos a investidores e empresas sustentáveis, com transparência em torno da sustentabilidade em seu modelo de negócios, gestão de riscos e cadeia de suprimentos. Guersent concluiu dizendo que agora a hora de agir é agora, e que o mercado deve abrir caminho.
“Queremos criar uma plataforma onde reunimos informações e desenvolvemos ideias. Precisamos de consenso sobre o que precisa ser executado e o que precisa ser evitado.”
“Nós [a Europa] somos a região do mundo que mais avança no cumprimento dos objetivos. Mas devemos continuar trabalhando nisso; ainda estamos no caminho do aumento de emissões. Todos nós precisamos melhorar. ”