Este artigo foi escrito por Philippa Thompson, diretora de Enterprise Sales do Buy-side da Bloomberg na região APAC para o The Asset.
Os mercados ainda estavam se recuperando no início de 2020. Uma guerra comercial acirrada, tensões geopolíticas e agitações sociais impulsionaram a economia global a registrar seu ritmo mais lento desde a crise financeira global (GFC, na sigla em inglês). A COVID-19 causou outro desafio e revirou todos os planos de continuidade de negócios que as empresas financeiras tivessem em vigor. Embora o sell-side tenha sustentado um primeiro trimestre razoável devido ao aumento da volatilidade. O buy-side já estava em desvantagem antes do ano iniciar devido a uma crescente lista de desafios.
Um deles seria as alterações regulatórias que foram apresentadas após a GFC. O setor enfrentou uma pressão crescente relacionada a maiores conformidades com os procedimentos de controle interno e capacidades operacionais, incluindo compliance de pré e pós-trade. As empresas tiveram sorte quando a pandemia forçou reguladores a adiarem a implementação de regras de margens não compensadas.
No entanto, o buy-side não está sendo pressionado apenas por regulamentações, ele também está gerenciando a carga financeira trazida por questões como escalabilidade, qualidade de dados, segurança e padronização. O setor ainda está correndo atrás dos desafios econômicos e operacionais, que se tornaram ainda mais relevantes pelas consequências do coronavírus. As empresas de gestão de patrimônio tiveram que analisar seus investimentos em tecnologia, em uma corrida louca para se adaptarem imediatamente, cortar custos e encontrar soluções inovadoras. Como resultado, tudo isso encorajou a aceleração da adoção de tecnologias em nuvem.
As empresas estão vendo uma migração de até 70% a 80% de seus serviços para a nuvem, à medida que as empresas de gestão de ativos aumentam o uso de tecnologias baseadas na nuvem para negociação e compromissos com clientes devido às restrições da COVID-19.
A antiga expressão ainda é verdadeira: tempo é dinheiro. Embora as empresas queiram economizar custos a longo prazo, elas também estão interessadas em priorizar a eficiência. À medida que os gestores de ativos navegam pelos impactos do coronavírus nos investimentos, soluções tecnológicas resilientes e modelos operacionais estão se tornando mais importantes.
O setor está trabalhando tanto com plataformas de fornecedores terceirizados quanto com sistemas internos (in-house). Os gestores de ativos estão cada vez mais terceirizando seus processos de negociação e execução para reduzir custos e se concentrar nos principais negócios. No entanto, as tensões financeiras e regulatórias fizeram com que as empresas maiores também alavancassem suas capacidades internas. Isto deixou o buy-side tentando se desembaraçar de uma teia complexa.
Embora não exista uma solução única para todos, a análise da dependência de uma empresa com relação às duas práticas – plataforma de fornecedores terceirizados e sistemas internos (in-house) – proporcionará uma maior percepção da eficiência operacional. As organizações precisarão identificar soluções colaborativas que funcionem a seu favor, não contra. Espera-se que o setor do buy-side invista continuamente na agilização de processos e de tecnologias escaláveis que apoiem as empresas em todas as etapas do ciclo de vida do investimento, de operações de pré-negociação a operações de pós-negociação.
Além da tecnologia e de modelos operacionais, acreditamos que haverá mais colaboração estratégica projetada para remover a complexidade de integrações, permitindo que os clientes se concentrem na inovação e na escala em toda a empresa.
Modelos de risco que ajudem gestores de ativos a criar melhores estratégias de hedging em tempos voláteis, e ferramentas avançadas de gestão de portfólio para gerenciar o deslocamento do mercado, também serão fundamentais. E, cada vez mais, veremos empresas adotando soluções do buy-side mais holísticas com capacidades de multiativos, permitindo a negociação de derivativos durante todo o ciclo de vida do investimento.
O setor financeiro lidará com as sérias repercussões da pandemia muito depois que o vírus deixar de dominar as notícias e depois que os mercados se recuperarem. O buy-side terá que enfrentar os desafios atuais e encontrar soluções em todas as etapas da jornada de seus investimentos, se quiser sair por cima. Tecnologias eficientes, colaborativas e resilientes, modelos operacionais e melhores práticas garantirão que o buy-side possa sobreviver e prosperar com as crises atuais e futuras.