As corretoras do sell-side enfrentam um cenário cada vez mais competitivo para atrair e manter negócios do buy-side. Uma maneira do sell-side se diferenciar e deixar as rivais para trás é tomar a dianteira na automação das mesas de operação, ou seja, na transformação de processos manuais, que dependem do ser humano, em processos automáticos e controlados por computador, que requerem pouca ou nenhuma intervenção humana. Com isto, as empresas do sell-side que se posicionarem como líderes em automação ganharão em eficiência e, o mais importante, se tornarão parceiros mais engajados e pró-ativos.
Processos mais automatizados livram traders de tarefas banais e que não agregam muito valor.
Desta forma, os traders podem dedicar mais tempo para trabalhar com seus clientes em operações de maior valor, porte e complexidade, e para focar em otimização tecnológica e estratégias comerciais. Entregar bons resultados nestas áreas e iniciativas é o caminho mais seguro para um trader ou uma empresa aumentar seu valor perante o cliente e melhorar suas chances de renovar e expandir seus negócios.
Além de economizar o tempo dos traders, a automação melhora a sua eficiência e agiliza seus fluxos de trabalho. Por exemplo, uma tarefa rotineira, que antes levava 10 minutos, pode ser concluída com apenas um clique. Como consequência, as empresas podem gerar mais dados, fornecer insights mais detalhados e fazer análises mais criteriosas. Em um mercado no qual os gestores de investimentos podem facilmente optar por estratégias passivas ou ETFs de baixo custo, oferecer serviços e suporte personalizados pode ser um grande diferencial para as empresas do sell-side, fidelizando os clientes do buy-side e fortalecendo o relacionamento.
Para uma mesa de operações do sell-side, a automação reduz as chances de erro humano, otimiza a execução das operações de negociação e permite cumprir as exigências de regulamentação de uma forma mais abrangente e sem sobressaltos, entre outros benefícios. Além das especificidades, a lógica geral é que automatizar libera os traders para que se concentrem em transações mais complexas, de maior valor/porte e que demandam o toque humano.
Tecnologicamente, o caminho para a negociação eletrônica foi pavimentado pelas Interfaces de Programas de Aplicativos (APIs),que possibilitaram a comunicação entre os sistemas de gestão de precificação, riscos e cotações por meio de uma interface padrão, como o protocolo FIX.
Este avanço, somado à maior disponibilidade de dados e às alterações na estrutura do mercado conduzidas pelas entidades reguladoras, trouxe as transações do tipo “clique aqui” para amplas faixas do mercado de títulos mobiliários, no qual houve um grande aumento na adoção da negociação eletrônica de 2001 a 2008. Porém, as taxas de crescimento se estabilizaram depois disto, chegando a praticamente zero ao ano em alguns casos, já que certos tipos de transações permaneceram incompatíveis com este modelo.
A negociação eletrônica de ações aumentou de aproximadamente 25% do total do volume do mercado em 2001 para 95% em 2010 – patamar no qual permanece até hoje, de acordo com dados do Aite Group. No caso dos investimentos em renda fixa, o caminho para a "eletronificação" tem sido mais lento e instável. De 2001 a 2010, o volume de negociações eletrônicas de títulos do Tesouro dos EUA aumentou de 12% para 52%; desde então, houve um aumento de apenas cerca de oito pontos percentuais, alcançando 60%. De acordo com dados do setor, cerca de 30% das negociações de títulos privados são realizadas por meio de comandos do tipo "clique aqui".
No caso de ações e títulos do tesouro, a curva de adoção da negociação por meio de algoritmo acompanhou a da negociação eletrônica, pois houve um grande salto nos anos 2000 seguido por um platô de longo prazo, com crescimento modesto. Considerados o subconjunto de máximo low-touch no mundo da negociação eletrônica, os algoritmos (algos) representam atualmente cerca de 67% do volume do mercado de ações, comparado com 42% em câmbio e menos de 10% em renda fixa. Os números mostram um volume persistente e estanque de trading entre classes de ativos que demandam um serviço com maior “high-touch” – que só pode ser prestado de forma eficaz por aquelas empresas do sell-side que mais se renderam à automação e conseguiram deixar mais tempo livre nas mãos dos seus traders.
Uma vez que não há como separar a automação da negociação eletrônica, pode-se dizer que a história da primeira começou com a segunda nas mesas de operações.