Artigo com base em um podcast com Steffan Tsilimos, Global Head of Interest Rate Derivatives Product, na Bloomberg, publicado no site Risk.net .
O longo caminho de transição da LIBOR tem contado com uma notável coordenação entre reguladores, governos, investidores e bancos, com altos níveis de transparência e inclusão, uma vez que consultas diversas têm contribuído para fazer o ajuste final nas novas taxas livres de risco (RFRs) e nos mecanismos de fallback dos contratos antigos da LIBOR.
O esforço "educativo" tem sido extremamente amplo, deixando os participantes do mercado com produtos atrelados à LIBOR em seus portfólios sem muitas desculpas para justificar a ausência de uma estratégia de transição. No entanto, com menos de um ano para a extinção programada da LIBOR, permanecem complicações significativas nos aspectos práticos das atividades relacionadas à transição, levando à adoção de diversas abordagens que, muitas vezes, dependem da jurisdição e do produto.
Os contratos antigos da LIBOR são um desafio conhecido que continua a impactar os participantes do mercado. Nos mercados de derivativos, os reguladores e grupos de trabalho recomendam que os usuários eliminem ou reduzam suas exposições em LIBOR muito antes da data de cessação. Os usuários podem reduzir a exposição através da compressão, ou mesmo da rescisão de contratos existentes da LIBOR, substituindo-os por instrumentos atrelados às taxas livres de risco (RFRs). No entanto, no mercado de títulos, a situação é mais complexa. Ao contrário dos derivativos de balcão (OTC), que normalmente envolvem duas partes, os títulos podem ter dezenas ou centenas de stakeholders.
No RU, onde a anuência mínima exigida para alteração de contratos é de aproximadamente 75% das partes, houve alguns casos bem sucedidos, em que os bondholders concordaram em mudar [a taxa do] cupom da LIBOR em libra esterlina para a SONIA (Sterling Overnight Index Average). Entretanto, em jurisdições como os EUA, em que é necessária a anuência de 100% das partes para alterações contratuais, é menos provável que esta abordagem seja eficaz. Por esta razão, nos EUA, há propostas para uma abordagem legislativa que permitiria que os contratos com cláusulas de fallback falhas ou inexistentes adotassem automaticamente a cláusula de fallback definida pelo comitê ARRC (Alternative Reference Rates Committee), no caso de uma eventual cessação.
Nos últimos dois anos, a Bloomberg tem trabalhado de perto com seus clientes para identificar e classificar diferentes tipos de fallbacks de milhares de títulos antigos da LIBOR, por meio de uma ampla variedade de produtos de renda fixa, tais como as FRN's (floating-rate notes) e hipotecas. Embora a compreensão de fallbacks em produtos de renda fixa exija uma análise de cada título ou ativo, os contratos de derivativos OTC podem seguir as taxas de fallback da ISDA (International Swaps and Derivatives Association ), que são calculadas pela Bloomberg Index Services Limited (BISL). Nas transações de derivativos mais antigas, os clientes terão de optar pelo protocolo de fallback da ISDA, que entrou em vigor em janeiro de 2021. À medida que se aproxima a data de aposentadoria [da LIBOR] em 2021, a Bloomberg espera que um número crescente de participantes do mercado busque maior clareza nas questões relacionadas ao fallback.
LIBOR: perspectivas para 2021 Entrevista com Steffan Tsilimos, Global Head of Interest Rate Derivatives Product, na Bloomberg
Como calcular exposições e atualizar sistemas
De modo geral, é importante que as empresas compreendam suas exposições em LIBOR. O primeiro passo é examinar os portfólios existentes e identificar os contratos antigos, sejam eles derivativos ou produtos de renda fixa. E, então, avaliar a adequação das várias opções de transição disponíveis para cada produto existente. Alguns participantes do mercado podem ainda estar usando a LIBOR em vez de OIS (overnight indexed swap) para descontos, uma prova da natureza arraigada do desacreditado benchmark. Portanto, formular um plano para se afastar da LIBOR e passar para as taxas livres de risco (RFRs) para desconto de derivativos pode ser outro passo fundamental.
Da perspectiva do custo-benefício, muitas empresas estão ponderando os prós e contras de adotar uma abordagem proativa, ante a alternativa de não agir. Estas empresas podem fazer uma análise do custo potencial de zerar exposições em derivativos da LIBOR observando o spread entre compra e venda, ou a potencial transferência de valor da marcação a mercado sobre o derivativo da LIBOR versus um substituto baseado em taxas livres de risco (RFRs). Então, podem sobrepor estes custos às análises de cenários e resultados potenciais se o derivativo da LIBOR permanecer no portfólio após a cessação [da taxa] e causar o acionamento dos cálculos de fallback da ISDA. Compreender as diferentes abordagens, e potenciais custos e benefícios é essencial para qualquer estratégia de transição.
Para garantir que os pagamentos diários compostos ou médios atrelados a taxas livres de risco (RFRs) ocorram no prazo, os sistemas devem estar aptos a facilitar mecanismos tais como lockouts, loockbacks e atrasos de pagamento, além de incorporar quaisquer convenções de média ou composição, pois são características críticas dos pagamentos baseados em RFRs.
SOFR versus €STR
Os participantes do mercado devem estar atentos às diferenças entre as várias substituições com taxas livres de risco (RFRs). Por exemplo, enquanto a SOFR deve substituir a LIBOR em todos os contratos, a EURIBOR, principal índice de crédito da UE, deve permanecer em existência depois de 2021, o que significa que a maioria dos contratos de taxas de juros pode continuar a referenciar a EURIBOR em vez da recém-criada €STR, substituta da EONIA. Quanto à indagação sobre as taxas livres de risco (RFRs) serem ou não negociadas ativamente, a Bloomberg tem visto muitas transações de clientes fazendo referência tanto à SOFR quanto à €STR nos últimos dois anos.
As casas de compensação têm desempenhado um papel significativo no incentivo à adoção de taxas livres de risco (RFRs), uma vez que as principais mudanças no Price Alignment Interest, que ocorreu em 2020, permitiram que mais hedges referenciassem as RFRs. Por exemplo, nos EUA, a migração dos descontos dos fundos Fed para a SOFR ajudou a impulsionar as atividades na extremidade mais longa da curva de rendimento da SOFR para swaps de base.
2021: o caminho adiante
Talvez o grande divisor de águas de 2021 seja a publicação de cronogramas que esclareçam os momentos exatos em que a LIBOR será extinta nas respectivas moedas. Essa clareza ajudará os stakeholders a se prepararem mais formalmente para atualizações de sistema e migrações da LIBOR para as taxas livres de risco (RFRs). Por exemplo, há expectativas fortes de que anúncios de pré-cessação sejam feitos no primeiro trimestre de 2021.
Neste ano, também haverá uma maior transferência de liquidez da LIBOR para as taxas livres de risco (RFRs). Embora um número considerável de transações já tenham sido feitas com vários tipos de OIS’s (overnight indexed swaps) e swaps de base, é provável que haja uma movimentação maior em produtos de volatilidade, tais como opções de troca (swaptions) e caps, em 2021.
A Bloomberg está ajudando seus clientes a entender os impactos que a transição da LIBOR terá em seus portfólios, oferecendo um conjunto abrangente de dados, analytics e soluções e auxiliando os participantes do mercado a avaliar a transição para as taxas livres de risco (RFRs), dando suporte para a adoção de todos os produtos disponíveis em sua plataforma líder de mercado.