Artigo com base em um podcast com Eugene Stern, Head of Market Risk Product na Bloomberg, no site Risk.net
A FRTB, que surgiu com a crise de crédito de 2008, levou tanto tempo para ser implementada que outra grande crise – o estresse econômico causado pela pandemia da COVID-19 – acometeu o mercado antes que o processo pudesse ser concluído. Porém, os bancos estavam mais bem preparados e capitalizados em 2020 do que em 2008.
Embora os bancos estejam em momentos diferentes quanto à realização dos ajustes finos na implementação da FRTB, e muitos ainda não tenham um fluxo de trabalho completo que incorpore a regulamentação, sua resposta à volatilidade do mercado em 2020 foi razoavelmente boa.
O ano que vem pela frente: FRTB Entrevista com Eugene Stern, Head of Market Risk Product na Bloomberg.
A implementação total permanece como um desafio. Embora o objetivo da FRTB fosse incentivar os bancos a pensar de forma mais ampla, ironicamente, fez com que prestassem mais atenção nos detalhes. Muitas vezes, os bancos terminam em discussões excessivamente técnicas, debatendo, por exemplo, o escopo do crédito, o vega, ou qual escala de risco utilizar, ou se preocupando em analisar componentes look through e os detalhes das curvas necessárias para os cálculos dos testes de atribuição de lucros e prejuízos (P&L). A avalanche de detalhes pode ser esmagadora e, sem dúvida, representa uma das fraquezas da estrutura. No entanto, muitas destas instituições – dos maiores players globais aos bancos regionais de menor porte – têm intensificado suas ações para enfrentar os desafios e, embora o processo ainda não tenha terminado, o fato de terem sobrevivido a 2020 é prova de que houve um progresso considerável.
Cenário misto: bancos em etapas diferentes
Dependendo de seu tamanho e do seu apetite de risco, e da tecnologia de mitigação correspondente, os bancos precisam atualizar diferentes partes do fluxo de trabalho para estabelecer uma plataforma de risco em total conformidade com a FRTB. Muitos bancos de médio porte e multinacionais menores, por exemplo, ainda precisam descobrir como incluir o fator "opcionalidade" em seus portfólios de crédito ou como alinhar modelos e inputs entre trading e risco. Enquanto isso, várias multinacionais e bancos globais de maior porte estão trabalhando em abordagens para financiar suas exposições, pois não estão dispostos a modelá-las como holdings acionárias diversas com um peso de alto risco.
Muitos enfrentam dificuldades para decidir se devem desenvolver uma plataforma própria ou uma em conjunto com um parceiro estratégico. Se fizerem a segunda opção, precisarão decidir quais elementos da plataforma o parceiro deverá ajudar a desenvolver.
A Bloomberg entende a FRTB como um componente de uma plataforma de risco geral – uma distinção particularmente importante para os bancos que optam por se concentrar em abordagens padronizadas (SA). Por exemplo, embora sob as abordagens padronizadas, VaR não seja mais necessária para o capital, a maioria dos bancos espera continuar utilizando a ferramenta para gestão interna de risco. Os bancos que se concentram exclusivamente na FRTB correm o risco de negligenciar a gestão interna de risco e podem terminar com dois sistemas separados, um para SAs e outro para VaR, com grupos diferentes de funcionários gerenciando cada um deles, e possivelmente um terceiro grupo tentando alinhar dados e modelos entre os dois. Tal disparidade gera uma confusão cara e difícil de gerenciar, tanto operacionalmente quanto em termos da capacidade de tomada de decisões sobre risco.
Os bancos que pensam estrategicamente reconhecem o valor de uma plataforma única e de um conjunto de dados consistentes; do acesso a dados de mercado, referência e classificação de alta qualidade, e de um conjunto único de modelos de precificação como a espinha dorsal de todas as aplicações de risco, sejam VaR, FRTB, testes de estresse ou gregas de front office.
O orçamento desses bancos para desenvolver uma solução de FRTB representa uma oportunidade para atualizar suas plataformas e satisfazer tanto as necessidades internas quanto regulatórias de gestão de risco.
Ainda assim, tomar decisões de implementação bem embasadas é um desafio. A FRTB é composta de muitas partes móveis, e cada escolha envolve trocas (ou concessões) da perspectiva do custo-benefício. Por exemplo, os bancos devem adotar uma abordagem padronizada (SA) ou uma abordagem de modelos internos (IMA)? E devem obter dados de apenas uma ou de diversas fontes? Essas perguntas continuam sendo pontos decisivos. Entretanto, é difícil estimar os custos e benefícios sem fazer algum nível de implementação.
Embora a pandemia da COVID-19 tenha provocado um atraso global de um ano do ponto de vista regulatório da FRTB, a maioria dos bancos interrompeu seus planos por apenas dois ou três meses, mas retomou suas implementações rapidamente, à medida as questões mais imediatas relacionadas à pandemia foram enfrentadas. Na UE, a European Bank Authority (EBA) prontamente sinalizou que esperava que os bancos começassem a informar o capital utilizando a abordagem padronizada (SA) da FRTB em setembro de 2021 – e, até agora, eles parecem estar se preparando diligentemente para cumprir este prazo.
Nos EUA, os grandes bancos globais estão relativamente adiantados nas suas implementações, com o planejamento orientado pelas datas globais, ao passo que o progresso dos bancos menores tende a variar mais. Nos últimos meses, o Federal Reserve dos EUA começou a sinalizar expectativas de níveis mais altos de implementação, com o potencial início das aprovações de modelos na segunda metade de 2021.
Os bancos, especialmente os regionais, encontram-se em diferentes etapas em relação a tais expectativas, com alguns tentando ativamente se adiantar, e outros preferindo “esperar para ver”. Os bancos menos pró-ativos podem descobrir que têm menos tempo do que imaginam para atender às exigências regulatórias.
É importante lembrar que, apesar de envolver atividades regulatórias, a FRTB também representa uma oportunidade para melhorar o desempenho geral da gestão de riscos.
Para concluir, a Bloomberg tem três recomendações para 2021. Em primeiro lugar, os bancos devem se certificar de que seus programas de implementação estejam em pleno funcionamento e nas mãos de pessoas qualificadas. Em segundo lugar, devem identificar seus principais pontos de decisão de implementação e obter as informações necessárias para tomar tais decisões. E por fim, depois que a estrutura básica da FRTB estiver pronta e em funcionamento, os bancos devem integrá-la ao seu processo geral de tomada de decisões, tanto em termos de escolhas táticas de negociação quanto de decisões mais estratégicas.
Para implementar a FRTB até 2022, os bancos devem melhorar sua arquitetura de risco e seus processos de governança e reconsiderar a maneira como adquirem, alinham e utilizam seus dados de referência e de mercado. Quer você precise de dados de mercado prontos para a implementação da FRTB, um mecanismo de análise de risco confiável ou um fluxo de trabalho completo de ponta a ponta, a Bloomberg oferece pacotes de soluções personalizadas para atender às suas necessidades.