This interview was first published by SRP and was licensed by Bloomberg.
Karim Faraj, Global Head of Front Office Derivatives na Bloomberg, discute como a pandemia acelerou a digitalização, o uso crescente de tecnologias e dados para lidar com a gestão de riscos e como a padronização pode ajudar o mercado a se tornar mais eficiente e transparente.
Como você avalia a ruptura do mercado em meados de março e qual será o papel dos produtos estruturados no futuro?
O mundo dos produtos estruturados se caracterizou por níveis de atenção e atividade sem precedentes ao longo do ano passado. O mercado varejista em geral, que depende mais de interações face a face, foi mais atingido pela pandemia do que o mercado institucional, em que muitos profissionais experientes tiraram vantagem da alta volatilidade e das decisões de política monetária.
Até hoje, há muitas incertezas sobre como a "nova" economia irá se desenvolver, e o ambiente continua desafiador, mas os produtos estruturados podem oferecer oportunidades interessantes para os investidores, por exemplo, fluxos de caixa adaptados a cenários econômicos específicos de maneira muito transparente, e podem ser utilizados para proteger portfólios de investimento. Além disso, em um ambiente de baixo rendimento, podem ajudar a gerar um retorno maior, especialmente em mercados voláteis.
Investidores que preferem investimentos com liquidez ou que não se sentem confortáveis com o risco de contraparte podem se beneficiar de produtos estruturados por meio de estratégias de índice e fundos negociados em bolsa (ETFs).
Você percebeu mudanças na demanda dos clientes pela DLIB (Biblioteca de Derivativos), soluções de risco e serviços da Bloomberg este ano?
Os investimentos em infraestrutura e capacidades feitos pela Bloomberg ao longo das últimas décadas nos permitiram oferecer aos clientes o suporte e o serviço necessários 24 horas por dia, 7 dias por semana, em um momento difícil como o início deste ano. Considerando a importância da qualidade de dados de mercado e dos números sobre risco em tempos voláteis e de incerteza, as soluções tecnológicas se tornaram mais importantes do que nunca para nossos clientes tanto do sell-side quanto do buy-side.
O resultado é que estamos vendo um aumento na demanda por nossas soluções avançadas de risco e valuation, particularmente para melhorar a gestão do risco intraday e de crédito. Os participantes do mercado estão percebendo que precisam abordar a gestão de risco de uma perspectiva com base em sistemas de dados e tecnologia e, por isto, estão fazendo análises de risco mais aprofundadas para acompanhar a rápida evolução dos mercados.
A pandemia também destacou a importância de sistemas resilientes.
Como a Bloomberg está respondendo à evolução na demanda dos clientes?
Muitas empresas têm sistemas que só abrangem produtos financeiros tradicionais, como títulos e ações, mas sentem a necessidade de expandir o alcance para mais derivativos de balcão (OTC) e produtos hipotecários, bem como gerir o risco de portfólio para si ou para seus clientes com produtos estruturados. Nossa tecnologia é realmente multiativos e permite que todas as diferentes posições sejam negociadas e o risco gerenciado em um único sistema, proporcionando consistência front-to-back.
Ao terceirizar etapas caras e complexas do fluxo de trabalho, as empresas podem se concentrar no principal: oferecer um bom atendimento aos clientes. Elas também têm outro benefício, que é a parceria com uma organização que investe continuamente em seus sistemas e introduz inovações, ajudando seus clientes a melhorar sua eficiência operacional, adaptar-se às mudanças do mercado e atender as exigências regulatórias.
Os desafios impostos pela pandemia da COVID, tais como o trabalho remoto, podem acelerar a transformação digital do mercado de produtos estruturados?
As automações continuam ajudando as empresas a melhorar seus processos de investimento e negociação em múltiplas classes de ativos. O trabalho em home office durante a pandemia tem alimentado esta tendência e aumentado o interesse por uma maior resiliência operacional que os prestadores de serviços de TI podem oferecer. A maioria das empresas não tem tempo e recursos para gerenciar sua transformação digital internamente e procura parcerias com fornecedores de tecnologia que possam fornecer tais produtos e serviços por uma fração do custo.
A Bloomberg está utilizando tecnologias de ponta, tais como a aprendizagem de máquina e modelos quantitativos avançados, para integrar os fluxos de trabalho front-to-back e tornar os produtos estruturados tão fáceis de negociar e processar quanto os títulos. Também fornecemos cada vez mais componentes analíticos e de fluxo de trabalho por meio de APIs capazes de alimentar os vários sistemas utilizados pelos clientes. Painéis dinâmicos podem ser integrados facilmente, aumentando a transparência e fornecendo mais dados para a tomada de decisões de maneira consistente com o modelo operacional almejado pela empresa.
As empresas têm a oportunidade de tirar proveito deste momento e estabelecer os alicerces adequados para melhorar sua resiliência, eficiência de custos e competitividade e, assim, ampliar seus negócios.
No cenário atual, quais são as áreas de foco dos players do mercado quanto a produtos estruturados?
Estamos vendo muito interesse em nossas APIs flexíveis, pois, durante os primeiros dias e semanas da pandemia, as empresas tiveram que fazer mudanças muito rapidamente. Há outros desafios complexos do mercado no horizonte, tais como a transição da LIBOR. As APIs de risco da Bloomberg ajudam as empresas não apenas a acelerar o processo de digitalização, mas também a garantir o controle de custos de suas operações.
À medida que a tecnologia financeira evolui e mais participantes do mercado se tornam nativos digitais, as empresas devem se concentrar em vantagens competitivas e transformar a experiência dos usuários com seus produtos e serviços. Para tanto, muitas delas precisam terceirizar seu back-end e contratar parceiros tecnológicos de peso.
Podemos fornecer APIs abertas e fáceis de integrar para múltiplas áreas de operação, incluindo: geração de idéias pré-negociação, gerenciamento de ciclo de vida, front office intraday, valuation e bucketed Greeks (gregas agrupadas), explicação/atribuição de lucros e prejuízos (P&L), análise de cenários e testes de estresse, VaR, XVA, gestão de garantias, eficácia de hedge e análises regulatórias, como PRIIPs (Packaged Retail Investment and Insurance-based Products), etc.
Qual deve ser a evolução do espaço de derivativos nos próximos anos?Será que veremos uma maior automação e padronização entre funções e players?
Existe uma oportunidade para o buy-side, o sell-side, corretoras, depositários, reguladores, casas de compensação e fornecedores colaborarem para tornar o mercado de produtos estruturados mais eficiente e transparente, beneficiando todos os seus participantes. A padronização, lado a lado com a automação, por exemplo, pode trazer melhorias substanciais para os mercados de produtos estruturados e ajudá-los a tornar o setor mais resiliente e rentável.
Associações do setor, tais como a ISDA, estão tomando a frente com projetos para definir e promover padrões para os mercados de balcão. Em uma carta recente à FSB (Financial Stability Board), a IOSCO (International Organization of Securities Commissions) e ao BCBS (Basel Committee on Banking Supervision), tais associações destacaram que a adoção de padrões comuns de dados e processos em todo o setor e o aumento da digitalização podem melhorar a gestão de riscos por meio de um maior alinhamento entre contratos, processos e dados. O aumento da automação promoverá processos operacionais mais eficientes e econômicos, reduzirá complexidades e permitirá que as empresas prestem melhores serviços a custos mais baixos.
Onde a padronização é necessária no mercado de produtos estruturados?
Acreditamos que as iniciativas de padronização devem focar especialmente nestas três áreas: pagamentos/liquidação/compensação, definições de produtos financeiros no espaço do mercado de balcão e, por fim, ciclo de vida dos produtos financeiros.
Em particular, estamos trabalhando com a ISDA na padronização de produtos, tais como autocallables e padronização de eventos relacionados ao ciclo de vida, como um exercício parte da iniciativa “Common Domain Model” da ISDA, entre outros projetos.